“NAQUELA
MANHÔ
Numa noite, cerca de três horas da
madrugada, fui despertado pelo bater de alguém na minha porta. Ali estava um
homem inteiramente estranho para mim. Disse: - “Vim pedir-lhe que me acompanhe
para orar por uma moça moribunda”. Quando lhe disse que iria assim que o dia
clareasse, ele mostrou-se temeroso que fosse tarde demais.
Enquanto trocava de roupa, disse-me
ele: -“ Não é um lugar aprazível mas uma casa de perdição. Essa moça parece ter
conhecido o senhor e me pediu que o visse buscar para orar com ela”. Procurei
tranquilizá-lo sobre o assunto dizendo-lhe que não importava o lugar onde
estava, desde que ela desejasse que eu orasse por ela.
Saímos e fui levado para aquela casa.
Ali encontrei uma pobre moça ainda adolescente. Era evidente que ela
agonizava e em breve encontraria o seu
Criador. Uma pequena lâmpada na mesa ao lado da cama. Voltei o abajur para que
seu rosto fosse iluminado, a fim de ver se a conhecia. Sentindo o que eu fazia,
disse: -“Não creio que o senhor me conheça, mas eu o conheço, e sabia que o
senhor viria orar comigo, porque estou morrendo. As moças aqui não acreditam,
mas eu sinto que estou morrendo”.
Enquanto eu buscava na mente
precisamente o que diria para trazer
aquela pobre alma ao Salvador ressurreto, ela resolveu o problema
perguntando-me se não havia na Bíblia uma história de uma ovelha que saiu do
aprisco para longe e se perdeu, mas o Pastor que fora atrás dela, e trouxe-a de
volta.
Ó, sim, disse eu, é a história das
noventa e nove ovelhas e uma que se perdeu.
Sim, murmurou ela, uma que se perdeu
e repetia: uma que se perdeu.
Ajoelhei para orar por aquela moça
agonizante, as outras moças se ajoelharam também, soluçando, pela companheira
de quarto. Que reunião maravilhosa! Eu pregara a grandes congregações, mas
nunca tivera uma audiência tão iluminada pela presença do Senhor Jesus como
aquela.
Quando levantei a vista senti que
jamais hei de esquecer a expressão daquela face: -“Oh! Ela exclamou: Ele está
me unindo ao Seu coração”. Jamais ouvira aquela expressão antes e repetidamente
ela dizia: -“Ele está me unindo ao Seu coração”. Retornei aquela casa mais
tarde e soube que Maria já se extinguira, os carregadores do serviço funerário
chegavam também naquele momento.
Uma das moças veio ao meu encontro e
suas primeiras palavras foram: -“Como desejamos que o senhor estivesse aqui
quando Maria se foi! Estava tão feliz, repetiu sempre: -“O Pastor me encontrou
e me uniu ao seu coração”; e tentava por os braços ao redor de algo invisível.
E então, com suave adeus para nós, ela se foi”.
Alguns anos mais tarde, eu pregava o
Evangelho em certa cidade, quando uma jovem senhora veio a mim e perguntou
sorrindo: - “O senhor não me conhece?” Quando lhe repliquei que não podia me
lembrar com segurança, ela disse: -“Eu sou a moça que lhe contou como Maria
morreu naquela manhã e quão feliz se sentiu em seu novo estado. Mas há algo que
também quero dizer, uma ou duas vezes tentei escrever-lhe para contar a
história, mas não tive coragem de terminar a carta”. – Muito bem, e agora? –“Só
isto: naquela manhã quando o Bom Pastor trouxe Maria, a ovelha desgarrada em um
ombro, eu vim no outro”.
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P. W Philpott – (Extraído)
De: “RAIO DE LUZ” – Oout. A Dez. de
1971