“MÃE”
Ali estava escuro.
Não conseguia atinar onde eu
estava, nem o que eu era.
Sabia que aquele lugar era
quente e gostoso.
Eu ainda não tinha forma.
Era quase uma bolinha
naquele lugar escuro.
O tempo foi passando e eu
fui sendo como que torneada pelo meu crescimento.
Já conhecia bem aquele lugar
e
Comecei a querer perceber
algo além daquele meu pequeno mundo.
Foi então que eu a
percebi...
Eu e ela éramos como uma só
pessoa!
Aonde eu estava ela estava
também.
Parei de prestar atenção em
mim
E tentei me concentrar
naquele ser que me conduzia.
Ela passava horas falando em
mim...
Passava sua mão sobre aquele
lugar redondo onde eu estava.
E conversava comigo: “Eu
queria que você fosse uma menina”.
Eu não sabia o que era ser
menina.
Mas eu o queria ser, se isso
a fizesse feliz.
O tempo passou, não sei
quanto...
E a cada dia eu a amava.
Aquele era o lugar ideal
para se viver!
Não importava o que
acontecesse lá fora,
Porque ali dentro eu estava
segura.
Um dia em que ela acordou,
eu pressentia algo diferente no ar.
Houve um reboliço enorme e a
levaram para um lugar chamado hospital.
Ela parecia sofrer, mas
estava feliz.
E eu queria fazer algo, mas não sabia o quê.
De repente, houve uma quebra
no meu mundo de paz e
A mão de um homem me segurou
e tentava me arrancar do meu pequeno mundo.
Mas isso não me apavorou
tanto quanto a ideia de ter que me separar dela.
Eu não conseguia entender
nada!
Então eu experimentei algo
que nunca havia sentido que me perturbou.
E eu chorei. (Mais tarde,
vim a saber que era dor).
Levaram-me para longe dela.
Deram-me um banho.
E me colocaram num lugar
cheio de pequenos seres iguais a mim.
Não sei quanto tempo se
passou até que eu pude vê-la novamente.
Colocaram-me em seu colo e
Eu não conseguia, ainda,
compreendê-la neste novo ambiente.
Mas pude sentir o toque
daquela mão que tantas vezes acariciou
O lugar em que antes eu
estava, como que tentando me alcançar.
Aquela mão... o seu toque transmitia a segurança que eu perdera
Desde que havia sido tirada
do meu pequeno mundo.
Ela olhou para mim e disse:
- “É uma menina!”
Senti então, o toque dos
seus lábios em meu minúsculo rosto.
Ela me apalpou, me abraçou e
me amou mais ainda.
Eu não sabia o que me
esperava naquele novo mundo.
Não era escuro.
Mas havia muita luz.
Não havia silêncio.
Mas sim muitos sons
diferentes de vozes e ruídos.
Apesar de tudo ser novo e
diferente...
Ela era a mesma! Sempre ao
meu lado.
Sua voz era doce e seu colo
macio.
Ela era agora o meu mundo.
Era insubstituível!
Seu nome, eu descobri – MÃE.
E como era doce dizê-lo.
Era um nome mágico, pois ao
pronunciá-lo, ela sempre corria para perto de mim.
Hoje, já se vão muitos anos
e ela continua insubstituível.
As suas mãos, ainda me dão o
mesmo carinho.
E me transmitem a mesma
segurança.
E seu nome ainda é mágico.
E ainda é mais doce dizê-lo:
MÃE!!
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Sílvia Néli Falcão Barbosa
De:
‘Manancial’ – 2º trimestre de 1993
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