"Aquele que
habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Direi do
Senhor, Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e n'Ele
confiarei... Porque Ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste
perniciosa. Ele te cobrirá com as suas penas e debaixo de Suas asas estarás
seguro... Porque a Seus anjos dará ordens a teu respeito, para te guardarem em
todos os teus caminhos." -
Salmo 91; 1-4,11.
"PODEROSO PARA
GUARDAR"
Rev. M. Porto Filho
Numa noite de
domingo, durante o segundo verão da Guerra Civil na América do Norte, um jovem
soldado confederado, John Roberts, foi designado para ficar de sentinela num
bosque à margem de uma estrada, no estado de Virgínia. A noite estava quente,
opressiva. John Roberts, cansado e sonolento. Tudo ao redor, era silêncio. De
quando em vez, apenas o rumor de um esquilo saltando entre os ramos, ou os
característicos ruídos noturnos da floresta. Subitamente, o coração do soldado
bateu mais apressado, e insuportável sensação de perigo pôs-lhe um calafrio
pelo corpo. A treva o cercava, cheia de mistérios, e, por entre ela, nada senão
o vulto das árvores e o balançar das ramadas, que tornavam a noite mais negra e
temerosa naquele esconderijo. Roberts, arrastando-se com cuidado, arriscou um
olhar pela estrada, que se desenrolava numa faixa embranquiçada entre os
matagais de um outro lado. Nada viu de ameaçador ou suspeito. Volvendo ao
abrigo primitivo, o soldado deixou-se arrebatar pela imaginação agora aguçada.
A imagem da mãe e da velha igreja, em cujo coro cantara em criança,
amenizou-lhe um pouco aquela sensação de solidão e perigo. E dos lábios, quase
inconscientemente, nessa lembrança tão doce, brotaram-lhe, a princípio em
murmúrio, depois em palavras nítidas que não conseguiu reprimir, as palavras de
um hino muito amado:
Outro Amparo não achei
sem alento, venho a Ti.
Se me negas, morrerei:
voz da morte eu já ouvi.
Eu confio em Teu amor
e na Tua compaixão.
É meu forte defensor:
não me largue a Tua Mão.
Enquanto assim
cantava, a lua emergiu de entre as nuvens e toda a estrada se clareou num banho
de prata. John Roberts sentiu como se a sua luz lhe viesse varrer as sombras de
perigo e temor que antes o oprimiam.
Alguns anos depois,
terminada a guerra, estava cruzando o Atlântico, rumo a Inglaterra. Num domingo
pela manhã, reuniu-se com vários outros companheiros de viagem num camarote
para lerem a Bíblia e cantarem alguns hinos. O capitão, que dirigia o serviço
religioso, pediu a Roberts que fizesse um solo. Alegremente, o moço atendeu-o e
cantou o seu hino favorito, o mesmo que entoara naquela noite no bosque de
Virgínia. Enquanto cantava, notou que um dos passageiros, levantando a cabeça,
olhava-o surpreso, com um interesse estranho, numa atitude a um tempo admirada
e comovida. Terminado o culto, o homem veio procurá-lo:- Sou Harvey Brandon, de
Nova York, apresentou-se. Apreciei muito o hino que o senhor cantou. E creio -
disse depois de uma pequena pausa - que é a segunda vez que o ouço.- E como
John Roberts fizesse menção de achar isso impossível, pois era a primeira vez
que o via, o outro perguntou:- O amigo não pertenceu ao Exército Confederado? E
não esteve, em tal noite, de sentinela num bosque de tal estrada de Virgínia? -
Sim, é verdade, respondeu Roberts, já agora mais do que admirado pela palestra.
Mas... como pode o senhor saber isso? - Porque eu também estava lá. Era um
soldado da União, do Exército contrário ao seu. Tirava serviço aquela noite.
Com um grupo de patrulheiros, nos aproximamos daquele bosque e o descobrimos. O
senhor era um alvo perfeito para nós. Apontei-lhe minha arma direto ao coração,
e meus soldados também levantaram suas carabinas para fuzilá-lo. Nesse momento
porém, o senhor começou a cantar: "Outro Amparo não achei; sem alento
venho a Ti." Baixei a arma, e disse
a meus companheiros: Rapazes, é nosso irmão. Vamo-nos daqui.
Essa história, com
toda a sua montagem perfeitamente teatral, é contudo, rigorosamente verídica.
Houve, na verdade, John Roberts e sua gloriosa experiência com a infinita
bondade e poder de Deus para salvar. E a vida está repleta de histórias assim, porque Deus ainda
não acabou, nem acabou ainda a geração de homens e mulheres cujo coração ainda
pode dizer: "Ó Deus, Tu és o meu Deus. Em Ti confiarei!"
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