"Ora,
numa grande casa, não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de
madeira e de barro; e uns, na verdade, para uso honroso, outros, porém, para
uso desonroso." - II Timóteo 2;20
“AS
CONFISSÕES DO ÚLTIMO BANCO DE UMA IGREJA"
Sou um banco de Igreja. Nasci numa floresta nativa do
Amazonas. Quando ainda era árvore, jamais imaginei que teria um fim tão digno.
Algumas
amigas minhas não tiveram a mesma sorte que eu. Umas se transformaram em lenha
ou em caixão. Outras, mesmo não tendo um fim tão nobre quanto ao meu, estão
bem, agasalhadas do frio, dentro de um quarto, como guarda-roupas. A única
importunação que têm, é aturar algumas madames reclamando das roupas que são
guardadas ali, pois nunca estão satisfeitas.
Eu tenho muitas histórias para contar. Lembro-me,
todavia, de um dia especial. Era a inauguração do templo. Todos estavam em
festa. Recebi um tratamento de primeira. Estava limpo, lustrado, cheiroso e
orgulhoso dos meus colegas. Fiquei empolgado quando soube que iria ser um dos
primeiros no santuário, perto do púlpito. Mas um diácono me carregou e me
colocou na última fileira, o que me causou grande tristeza. E já faz várias
décadas que não saio de lá.
Com o tempo descobri que, se não era o mais importante,
eu era, pelo menos, o mais procurado. Os meus colegas da frente começaram a me
invejar. Afinal, uma grande parte das pessoas me dava preferência, e queria
sentar lá no final do salão de cultos. Logo em mim.
Durante muito tempo, como um tolo, fiquei vaidoso,
achando que as pessoas gostavam de mim, e por isso me procuravam. Até comecei a
ouvir o que as levava a me procurar. Aí fiquei furioso e muito envergonhado por
ser o último banco.
- Sabe por que eu sento aqui, dona
Maria? É que se o culto demorar muito, eu saio de fininho...
- João, senta aqui atrás, que se a
gente conversar ninguém vai notar...
- Aqui é o melhor lugar quando se
quer namorar...
- Hoje eu estou com muito sono, e
como esse pregador fala muito, vou ficar por aqui mesmo porque se eu dormir,
ninguém nota...
Assim, fiquei muito decepcionado, e com o
tempo,deprimido, mas acabei me acostumando.
Um dia aconteceu algo muito diferente e emocionante. Eu
estava ali, no meu canto como há muitos anos, até que entrou um indivíduo
sisudo, de cara feia. Queria um lugar para sentar mais atrás, pois estava
envergonhado ao entrar no templo. Eu, como sempre, estava quase todo ocupado e
os meus colegas da frente vazios. O homem quase desistiu. Nesse momento, uma
menina, que não parava de conversar, resolveu levantar para beber água, o que
fazia umas quatro vezes por culto. Como o lugar ficou vazio, o sujeito sentou.
A princípio não parava de se mexer. Torcia a cara e mostrava um profundo pesar
por estar ali. Lembro-me, então, que o pregador começou a falar sobre perdão, e
o homem fiou impávido, de repente.
Ao término da mensagem percebi que alguma coisa estava
acontecendo. Comecei a tremer. Notei que era o tremor do indivíduo que estava
também me fazendo tremer. Até que ouvi o apelo do pregador que dizia: "Se confessares o teu pecado, ele é
fiel e justo..." Comecei a sentir algumas gotas caindo sobre mim. Vi,
então, lágrimas em seus olhos. O mensageiro dizia: "Não deixe o banco te
prender, venha à frente, pois quero orar por você... "Eu não estava
prendendo ninguém! Aquilo era uma calúnia; estava até torcendo para que o homem
atendesse ao apelo”.
Todos
ficaram de pé, conforme o pregador pedira, para que se cantasse um cântico
durante o apelo. Mas aquele senhor continuava sentado, quando algo diferente
aconteceu. Ele começou a falar sozinho, uma frase mais ou menos assim: "Ó
Senhor, tem misericórdia de mim, pecador" De repente eu senti um calor
especial. Não era algo normal.
Senti que alguém sentara, mas não conseguia ver quem era,
era algo invisível...diferente...espiritual! Até que entendi de quem se
tratava, pelas palavras que ouvi da boca daquele senhor, que ali chegara tão
abatido: "Obrigado, Senhor Jesus, por me perdoares, obrigado, Jesus, por
me tocares, obrigado Jesus, por estares aqui". Jesus estava ali! Sentado
ao lado daquele homem quebrado e moído pelo pecado, todavia contrito e
arrependido. Jesus estava sentado no último banco da igreja, e este banco era
eu.
Naquele momento, eu me senti a mais importante madeira do
mundo. Inferior apenas à madeira que recebeu um privilégio ainda maior: o de
suportar os cravos do Senhor, a madeira da cruz. Mas eu não a invejo, porque,
afinal, somos parte de um mesmo processo. A partir desse dia, a minha alegria
voltou!
É bem verdade que ainda fico muito triste, quando muitos
me ocupam, não deixando lugar para os que precisam que Jesus venha se assentar
junto a eles, e assim perco a oportunidade de senti-lO de novo.
Mas, não importam as conversas frívolas que ouço, os
dorminhocos que suporto ou até os chicletes que colocam em mim.
Aquele foi um momento tão especial que me encheu de
orgulho por ser, apenas, o último banco da igreja.
* * * * * * * *
Pr.
Neucir Valentim - Extraido
de Vida Cristã
3º
Trimestre 2000
Nenhum comentário:
Postar um comentário