domingo, 22 de dezembro de 2013

Um Conto de Natal !



“O MENDIGO”

23 horas. 24 de Dezembro. Era a noite em que se comemorava a chegada do Natal. As prateleiras dos bares estavam quase vazias. A matança de perus tinha sido enorme.

Meia noite se aproximava. As famílias já estavam reunidas e as grandes comemorações começando.
As bebedeiras, as comilanças atingiam seu ponto máximo. Em cada lar havia, além dos variados comestíveis, uma árvore de Natal repleta de bolinhas brilhantes e coloridas. Pelos móveis e pelas paredes, enfeites de toda espécie e um Papai Noel cada vez  mais velho, mas barbudo e mais desacreditado. Nem as crianças dormiam. Como dormir na presença de tanta coisa gostosa e de tantos brinquedos bonitos? E com tanto barulho?

E os comes e bebes, as saudações, as comemorações, as trocas de presentes e as manifestações de alegria, transcorriam com grande entusiasmo. Era o Natal. O natal de Papai Noel, das castanhas, dos presentes, dos vinhos e das ceias.

As ruas estavam semidesertas. As portas das lojas pregadas ao chão. De vez em quando passava um carro com seus ocupantes batendo tambor na lataria e cantando músicas de carnaval.

Um mendigo, maltrapilho, cansado  e faminto, caminhava lentamente pela calçada quase deserta. Por toda parte onde passava, ouvia, do interior das casas, o ruído das grandes comemorações. Eram vozes de toda espécie. Eram músicas de todo jeito.
Bateu numa porta.

Uma senhora muito vistosa e sacudida veio atender julgando ser um parente que estava chegando atrasado. Mas ao notar que era um mendigo, fechou a porta sem dizer palavra e resmungou: - “Nem hoje a gente tem sossego.”

E o mendigo bateu em outra casa.
A moça bonita e de vestido novo foi com o namorado até à varanda ver quem era. Mas ao verificar que era um mendigo, exclamou fingindo espanto: -“Cruzes!... 
E voltou rindo, para dar prosseguimento às comemorações natalinas.
E o mendigo, maltrapilho, cansado e faminto, continuou sua caminhada lenta pelas ruas da cidade.

Parou em frente a uma Igreja. Um dos portões estava aberto. Nos fundos, a grande ceia de Natal. Frangos assados, perus recheados, salada de frutas, refrigerantes...  Vinho não. Ficava feio vinho na Igreja. O que é que os outros iam dizer?
E com grande alegria os participantes comiam e bebiam. As famílias pobres, não compareceram. Uns por não terem condições. Outras, por acanhamento.
O mendigo ultrapassou o portão da Igreja. Depois, caminhou lentamente e à distancia de uns dez metros da grande ceia, parou e ficou observando. Uma jovem desembaraçada resolveu dar um pouco de atenção ao intruso. E aproximando-se da cozinha disse: - “Dona Terezinha, arranja aí um prato com um pouco de comida para aquele mendigo. Sabe que estou com pena dele... Está parado ali há quase dez minutos. Parece estar com fome.

- “Apanha ali e dá – disse dona Terezinha – mas no prato não. Dá num pedaço de papel. Mas olha, o frango assado não. Fizemos muito pouco”.
A moça apanhou um pratinho de papelão que sobrou de uma festa de aniversário, colocou nele um pouco de comida e dirigiu-se ao local onde estava o desconhecido. Mas era tarde. Ele já havia prosseguido seu caminho.

E as comemorações continuavam animadas nos lares católicos, em lares evangélicos, nos clubes, nos bares, nas conduções, em toda parte. O vinho, a rabanada, a castanha, o bacalhau, o arroz de forno e o ilustre Papai Noel eram coisas sempre presentes e os assuntos do dia.

E o mendigo dobrou esquinas, subiu ladeiras, percorreu ruas, bateu em centenas de casas, cada vez mais triste e decepcionado. Por fim, entrou em um jardim deserto. E ao aproximar-se de um canteiro perfumado, desapareceu misteriosamente.

ERA JESUS TESTANDO A HUMANIDADE!!!

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Conto de: Silas Vidal de Lemos
São Gonçalo –   “Voz Missionária” – 4ºtrim. de 1977.

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