“MÃOS ERGUIDAS”
Alberto Durer, filho de um ourives húngaro, sempre quis desenhar e pintar. A única dificuldade estava na carestia do estudo. Ele pertencia a família numerosa e muito pobre. Com muito sacrifício Alberto teve, afinal, a tão almejada oportunidade de estudar. Porém o pouco que recebia de casa, mal dava para suprir as necessidades, e ele tinha que se privar de muitas coisas, vivendo só pelo ideal de ser um dia um grande artista. Os dias não foram tão difíceis depois que Alberto se encontrou com outro estudante de arte, pobre como ele, mas um pouco mais velho e experiente na vida. Juntos repartiram os sonhos e o pão. Chegou, no entanto, o dia em que até o pão era luxo. A batalha para ganhar o alimento para as suas necessidades físicas estava começando a derrotá-los. Certo dia o amigo de Alberto disse: - “Este modo de viver trabalhando e procurando estudar está ficando insustentável. Nenhum de nós está ganhando dinheiro suficiente, tampouco estamos alcançando o nosso ideal. Vamos entrar em acordo, de modo que um de nós trabalhe para sustentar a ambos enquanto o outro estuda. Então quando as telas começarem a ser vendidas aquele que trabalhou terá sua oportunidade de estudar”.
- “Ótimo, disse Alberto. Eu serei o primeiro a trabalhar”.
- “Eu sou o mais velho”, respondeu o amigo, “e não tenho tanto talento como você. De algum modo você deve perder estes anos. Além disso, eu já tenho um emprego num restaurante”.
O amigo tanto insistiu que Alberto concordou com o novo arranjo. Ele foi ao atelier no dia seguinte, com novo zelo e grande alegria, trabalhando dedicadamente com suas tintas, gastando horas em exercícios e estudos detalhados. Seu amigo servia mesas, lavava pratos, esfregava assoalhos e fazia qualquer serviço ao seu alcance, de modo a poder ganhar o suficiente para comprar o alimento e pagar o aluguel.
Afinal, chegou o dia em que Alberto efetuou sua primeira venda. Era uma estatueta de madeira, cinzelada. Ele voltou apressadamente para casa, com o dinheiro, e atirou-o sobre mesa, de modo que ao bater na madeira fizesse um som metálico alegre. Havia o suficiente para comprar alimento para muitas semanas.
“Agora serei eu o ganha-pão, disse Alberto alegremente, “e você pode voltar ao atelier amanhã. Quando terminar este dinheiro, certamente poderei vender outro trabalho”.
O amigo deixou seu trabalho no restaurante e tornou ao atelier. Gastou longas horas trabalhando com grande vontade e expectativa, mas o seu progresso era moroso. Seus dedos estavam rígidos, seus músculos inflexíveis e as juntas dos dedos tão grossas que o trabalho se tornava dificultoso. Alberto encorajava-o do melhor modo que podia, no entanto, ambos chegaram a conclusão de que algo acontecera àquelas mãos que tinham trabalhado tão incessantemente. Os músculos estavam duros, as juntas inchadas e os dedos tão retorcidos que nunca mais poderiam usar o pincel com habilidade e maestria. Gradualmente o amigo mais velho chegou à conclusão que sua arte teria que ser sacrificada para sempre e que ele teria de voltar a seu emprego no restaurante. Isto foi um choque para ambos e Alberto ficou muito triste quando viu o que acontecera ao amigo. Jurou cuidar dele sempre e ficar-lhe eternamente grato, mas nunca poderia devolver aos seus dedos a destreza que era necessária para o trabalho. Um dia, voltando para casa, inesperadamente ouviu a voz de seu amigo, orando. Enquanto ele ficou em silêncio à porta,viu aquelas mãos gastas erguidas em direção aos céus e ouviu o amigo orando pelo seu sucesso, pedindo a Deus que desse a ele, Alberto, toda a destreza que ele sonhara um dia possuir.
Uma grande emoção apossou-se de Alberto e consigo mesmo pensou: “Eu nunca poderei devolver a destreza daquelas mãos, mas posso mostrar ao mundo a minha gratidão e amor por esse nobre ato. Eu pintarei suas mãos como vejo agora, para que quando outros olharem o quadro possam reconhecer o que ele fez por mim. Quiçá estas mãos venham a ser uma inspiração, que leve outras mãos a realizar trabalho semelhante, sem egoísmo e mesquinhez.”
Hoje “Mãos erguidas” é um dos quadros mais conhecidos no mundo todo. Esta fama não é só devido à sua excelência artística, mas porque é a revelação de um sentimento nobre, a emoção de um pintor que, passando pelo pincel, foi concretizar-se na tela. – (Transcrito) –
DE: “VISÃO MISSIONÁRIA” – 4º Trim. de 1985.
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