"Representações do Natal"
(Para Eunice Palmeira, pequenina flor colhida prematuramente).
Foi na Igreja do Bráz, nos primeiros alvores
da Festa do Natal.
Para representar as pequeninas flores,
estava sendo feita a escolha cuidadosa
numa bela manhã dominical...
-“ Você é a margarida!
- Eu quero ser a rosa!
- O jasmim é você! Arranja para mim
uma parte, eu não posso estudar o jasmim?!
- Fique quieta, menina, que eu arranjo!
... Está faltando agora, e eu não achei ainda
a menina mais linda
que possa ser o anjo!”
- “Eu quero, professora, eu estudo! “ - assim disse
levantando a mãozinha a pequenina Eunice -
-“ Mas onde já se viu um anjo tão moreno,
acho que não existe anjo moreno...
Anjo deve ser loiro, os cabelos doirados,
as faces cor-de-rosa, os olhos encantados,
verdes como o mar calmo. Eu quero um anjo lindo
que tenha a voz solene e a fala compassada!”
A menina sentou-se e não falou mais nada,
mas ficou refletindo...
"Anjo deve ser loiro!!!"
Foi no dia seguinte, a notícia correu
como o vento que voa pelas ruas:
-“ Quando foi? - foi às duas.
- Foi fatal? - foi fatal, a menina morreu!”
Eunice, a pequenina e delicada flor
que no dia anterior
quisera ser um anjo,
atravessando a rua alvoroçada,
ao dirigir-se para a escola, onde teria
a aula final do derradeiro dia;
correu e foi atropelada,
deixando ali na rua desolada:
a sombrinha partida,
a pasta estraçalhada,
deixando ali na rua a própria vida!
Fui vê-la em seu caixão, toda de branco,
de grinaldas no rosto e de sombras no olhar;
- perfume em todos os quartos
flores por todo o lugar.
Ela queria ser um anjo
e Deus que é muito bom e ouve as meninas, deu
a Eunice o privilégio, o prêmio sem igual
de ser, não só por uma festa de Natal
mas, para todo o sempre, um anjo lá no céu!
Hoje, Eunice de branco em brilho e majestade
a voz cheia de encanto e dulçor,
canta, plena de gozo, os bracinhos erguidos,
com todos os remidos,
por toda a eternidade,
o cântico de glória do Senhor!
(Autor: Gióia Júnior)
Esse poema é lindo e verdadeiro
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